… Desde logo, a procissão, imutável na sua essência, mas cada vez mais rica de figuração, como uma viva história bíblica, na sucessão dos quadros descritos com rigor das atitudes e dos trajes: os sacerdotes de Israel com as suas barbas respeitáveis e suas mitras hierárquicas; as boas samaritanas, no pudor dos véus roçagantes, de cântaro sequioso sob o braço; a ternura de um São Joãozinho no abrigo da simplicidade de uma pele de animal, arrastando a rebeldia de um cordeirinho, e as Nossas Senhoras, todas uma, afinal, com o característico dos seu hábitos: a Senhora do Carmo, na gravidade do castanho: Santa Maria Maior de braços abertos, com o manto de veludo azul constelado de astros: a alvura da Senhora de Fátima: o roxo e o azul da Senhora d´Agonia, de cabeça inclinada, dir-se-ia debruçada sobre o corpo cadavérico do divino Filho, descido, entre os panos ensanguentados, da tortura da cruz…
Texto de António Manuel Couto Viana – Romaria d´Agonia